Com letras e músicas tradicionais, estas canções, serviam para reunir manjares da época, habitualmente, peças de fumeiro (salpicões, chouriças...), que, posteriormente, entravam na confecção de uma ceia de confraternização entre todos os participantes. Cada casa visitada contribuía (ou não) com o que podia. O desenlace final das canções era sempre adaptado à boa vontade dos visitados.
Os grupos de cantadores, de porta em porta, de rua em rua, desafiando o habitual frio rigoroso das noites de Janeiro, invocavam os três Magos - Gaspar, Baltasar e Belchior.
O Cantar dos Reis, em Barroso, como noutras partes, situou-se sempre, tenuemente, entre o cariz profano e religioso do acto.
Esta manifestação popular conserva-se ainda, felizmente, em muitas aldeias. Numas por efectiva continuação, noutras por revitalização e, noutras ainda, por representação. Na memória do povo, persistem muitas das canções guardadas com saudosismo; muitas das arruadas, aventuras e desventuras vivenciadas. Sendo assim, aliando o conhecimento dos mais idosos à vontade e força dos mais novos pode estar aí a receita para o sucesso das iniciativas, criando assim uma revitalização o mais fidedigna possível e, não é por acaso que falamos numa revitalização fidedigna. Falamos nela porque, talvez como resultado da evolução dos tempos, a oferta em géneros deu lugar à retribuição em moeda e do cantar genuíno do povo passou-se à contratação de grupos vindos do Minho. Não é só aqui, nem é um mal só nosso, todavia a tradição foi e continua a ser desvirtuada, pesem embora os esforços louváveis que têm sido feitos em vários quadrantes para alterar esta situação.
De seguida, reproduz-se, uma de entre várias canções dos Reis tradicionalmente cantadas e tocadas nas Terras de Barroso:
"Aqui vem os três reisinhos
quatro ou cinco ou seis
se o senhor nos dá licença
vimos lhe cantar os reis
Os três reis do Oriente
já chegaram a Belém
visitar o Deus Menino
que Nossa Senhora tem
O menino está no berço
coberto c'o cobertor
e os anjinhos estão cantando
louvado sej'o Senhor
O Senhor por ser Senhor
nasceu nos tristes palheiros
deixou cravos deixou rosas
deixou lindos travesseiros
também deixou a abelhinha
abelhinha com o seu mel
para fazer um docinho
ao divino Emanuel
Você diz que tem bom vinho
có có có
venha-nos dar de beber
rintintin
florin-tintin
traililairo"
E, já agora, como estamos em tempo deles: - Boas Festas que me "hadem" dar os reis!
Comentários
Enviar um comentário
Leia antes de fazer o seu comentário:
- Os comentários do blog são moderados e serão colocados online após constatação de que estão de acordo com o assunto do post.
- Comentários ofensivos serão removidos.
- Não coloque links no comentário para divulgar o seu blog ou site, basta utilizar o OpenID no momento de enviar o comentário e o seu link ficará gravado.
- Os comentários não reflectem a opinião do autor.