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Momentos

A CENA DO ÓDIO
( breves excertos)
DE JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS
POETA SENSACIONISTA E NARCISO DO EGIPTO
A Álvaro de Campos
a dedicação intensa
de todos os meus avatares
Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis
divinizo-Me Meretriz, ex-libris do Pecado,
e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu!
Satanizo-Me Tara na Vara de Moisés!
O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes,
Inferno a arder o Meu cantar!
Sou Vermelho-Niagara dos sexos encarnados nos chicotes dos cossados!
Sou Pan-Demónio-Trifauce enfermiço de Gula!
Sou Génio de Zaratustra em Taças de Maré-Alta!
Sou Raiva de Medusa e Danação do Sol!
Ladram-Me a Vida por vivê-la
e só Me deram Uma!
Hão-de lati-La por sina!
Agora quero vivê-La!
Hei-de Guindaste içá-la Esfinge
da Vala pedestre onde Me querem rir!
(...)
Tu, que te dizes Homem!
Tu, que te alfaiatas em modas
e fazes cartazes dos fatos que vestes
pra que se não vejam as nódos de baixo!
Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,
as Políticas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espectáculo...
Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho-Marítimo da Índia
e as duas Grandes Américas,
e que levaste a chatice a estas terras
e que trouxeste de lá mais Chatos pr'aqui
e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
Tu, qu'inventaste a chatice e o balão,
e que farto de te chateares no chão,
te foste chatear no ar,
e qu'inda foste inventar submarinos
pra te chateares também debaixo d'água...
Tu, que tens a mania das invenções e das Descobertas
e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres...
Tu, que consegues ser cada vez mais besta
e a este progresso chamas Civilização!
Vai vivendo a bestialidade na Noite dos meus olhos,
vai inchando a tua ambição-toiro
Até que a barriga te rebente rã.
(...)
Olha para ti!
Se não te vês, concentra-te, procura-te!
Encontrarás primeiro o alfinete
que espetaste na dobra do casaco,
e depois não percas o sítio,
porque estás decerto ao pé do alfinete.
Espeta-te nele pra não te perderes de novo,
e agora observa-te!
Não te escarneças! Incomoda-te em sentido!
Não te odeies ainda qu'inda agora começaste!
Enjoa-te no teu nojo, mastodonte!
Indigesta-te na palha dessa tua civilização!
Desbesunta-te dessa vermência!
Destapa a tua decência, o teu imoral pudor!
Albarda-te em senso! estriba-te em Ser!
Limpa-te do cancro amarelo o podre
do lazarento de seres burro!
Desatrela-te do cérebro-carroça!
(...)
P.S. Trata-se de um texto muito longo... No entanto, as intenções que me levaram à trancrição ficam sobejamente ilustradas com estes excertos.

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