
"O Silêncio das Carpideiras"
D. Quixote, 2005
Decorre a década de 60, a região barrosã, tal como o restante país vive as angústias da ditadura. Uma pequena aldeia - Dornelos - sente-se ameaçada pela construção da barragem que a vai destruir. A aldeia assume o papel principal, na subversão contra a submersão, contra os danos colaterais de uma modernidade que nunca foi desejada nem auscultada.
A barragem dá pelo nome de Alto Rabagão. Na aldeia, a última criança fez-se mulher. Chama-se Susana. Mente entregue à psiquiatria, acompanhada por uma assistente social. A restante população é composta por idosos que subsistem como moleiros, pastores e ferreiros. As mulheres dedicam-se a profissões mais suspeitas. Duas delas, irmãs de sangue, almejam pelo dia de se carpirem. Outra, sobre quem recaem grandes supeitas de bruxaria, seduz os homens e depois fá-los sentir culpados do acto que acabaram de cometer. Susana envolve-se com Marcel, filho do chefe da obra, um engenheiro francês. Por outro lado, o pastor Jolo começa a trabalhar nos estaleiros da barragem. As condições de trabalho são degradantes e acontece uma revolução. Quem lidera a revolta é o galego Santiago, que acaba por ser detido pela PIDE, denunciado pelo Jolo.
Todavia, quando as águas subirem, todos perecerão absorvidos por elas. As carpideiras calar-se-ão ad aeternum. Só Susana se salva. Para a perdição...
Miguel Miranda, médico e escritor, trabalha, neste quarto romance, sagaz e minuciosamente, uma escrita quase a tocar a perfeição, cheia de ritmos próprios do bucolismo da vida rural, tal como tantos de nós a conhecemos.
A trama "O Silêncio das Carpideiras" será verdade ou fantasia? Certamente fantasia, mas, quem sabe, bem próxima do verdadeiro contexto histórico.
Caro Vitor Afonso.
ResponderEliminarReparaste que ninguém comentou o teu post. Por perguiça talvez de alguns, eu incluído. Mas sobre certas coias é difícil ter opinião. Gostei do livro embora tenha algumas reservas à sua 'arquitectura'. Tinha lido do mesmo autor «Contos à moda do Porto» e desitira de ler «Livrai-nos do mal». Não temos tempo nem paciência para tudo. Mas quando vi que este tratava do Montalegre de 60 li imediatamente e recomendo-o. Fiz um texto em npereira-blogspot.com que não cabe na categoria de comentário a um post. Nada mais faço aí que propor uma chave para ler o texto...
Seria interessante que aparecesse alguém que o tivesse lido e pudesse aqui falar não tanto sobre o texto, mas sobre as potencialidades de interpretação que a sua leitura nos abre desse tempo e do de hoje e que estão escondidas nas rugas dessa 'estória'.
Aguardemos, pois. Que remédio.