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Tempos idos


A imagem sugere-nos tempos idos, cheios de nostalgia e saudosismo. Gente. Muita gente, nas aldeias. Não uma gente qualquer. Gente jovem. Casas. Casas peculiares, construídas em granito ou xisto tosco. Sombrias, mas alegres, cheias de vida, de história e "estórias", vividas e contadas à lareira, à luz da candeia, entre um carmear de lã ou um gole de tinto, vindo da Ribeira.

Hoje, tudo mudou. Tocou-nos como herança - a ausência das pessoas; a descaracterização das habitações e dos espaços e, como consequência - a agonia e isolamento das aldeias. Não se atribuam culpas a A, B ou C, pois, para isso, contribuiu a conjugação de inúmeros factores: as conjunturas económicas, os que partiram e os que partem, os que governaram e os que governam e, os outros, os que, por cá, vamos ficando. Em suma, todos somos culpados e não adiantará vestir a lamechice do discurso - "as nossas aldeias estão a morrer...".
- Sim, estão! Uma tendência causa/consequência que se tem acentuado e seria de todo conveniente a sua inversão.
Estão a morrer, porque as solicitações do estrangeiro ou do litoral gritam mais alto que o apego à terra dos nossos pais e avós.
Estão a morrer, porque esta terra bela, mas de solo e clima agreste, não tem capacidade para alimentar a gente que produziu e produz (cada vez menos). E não falo só de pão; falo sobretudo do direito a um trabalho condigno e compatível com as competências e habilitações de cada um; falo do direito a condições de vida condignas; falo da criação de condições para a intervenção e participação política, social e cultural.
Estão a morrer, porque é mais fácil e cómodo comprar apartamentos nas grandes urbes - que, depois, até se alugam e o arrendatário, muitas vezes, até nem paga a renda e a solução é ir até à barra do tribunal - que reconstruir casas rurais, mediante um planeamento consciente e responsável, seguindo as normas de edificação estabelecidas nos regulamentos. Mas isso dá trabalho; quebra-cabeças; há impedimentos; os proprietários não vendem nem reconstroem; enfim, atilhos e tropeços. É necessária uma busca incessante e um rasgo de sorte. Sendo assim, é mais fácil um "chave-na-mão"!
- "As nossas aldeias estão a morrer!".
- Pois, estão!

Comentários

  1. Anónimo20.6.06

    Parabéns,Vitor M. Afonso, belo texto. Sou uma brasileira, com raizes portuguesas, mais precisamente neta de imigrantes da ALDEIA DE MEDEIROS, que fica a 5Km de Montalegre.
    Estive em Medeiros há tempos atrás e fiquei triste com a descaracterização de algumas casas.Gostaria de saber mais sobre essas aldeias, se puder me ajude e, mais uma vez parabéns pelo texto e pela escolha da linda foto antiga.
    NÁDIA CASTRO CRUZ
    e-mail: aidan21@globo.com

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  2. Anónimo20.6.06

    Um texto excelênte: um bom tema, uma boa exposição... Parabéns

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  3. Voce é digno de congratulações pelo texto e pela maestria ao escrever.
    quanto a suas aldeias ... nao morro de amores por portugueses, digamos que vcs "pintaram o 7" aqui na america.

    Aguas passadas não é mesmo?
    Mas meu povo se afoga nas torrentes dessas aguas passadas.

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  4. Anónimo21.6.06

    - Se o desassossego eliminar todas as mentes favorecidas pela luxúria e vaidade,será que a feira desce até á vila?
    - Se o tempo das vacas gordas (vistosas,bem postas e andarilhas)ultrapassar por caducidade, imcompetência e, acima de tudo má formação congénita, a fronteira do razoável,será que a praça pública tem o tamanho adequado?
    - Se o desmoronar de um passado recente contribuir para o caos de um futuro que é incógnito (pois da sua gestação sairá por certo um aborto), será que os fretes, substituirão a condição "humana" pelos B M W`s?
    - " As nossas aldeias estão a morrer!".
    - "Pois, estão!"

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  5. Anónimo21.6.06

    Não entendi a do Jorge L. Campos.
    Então não morre de amores por portugueses, porque os portugueses colonizaram o Brasil há 500 ano???
    E nós com isso?? Há 500 anos atrás nenhum de nós existia, ninguém nos perguntou (aos portugueses que somos agora) se queríamos ou não colonizar o Brasil!!!
    Pagamos pelo que fizeram os nossos antepassados? Ó diabo, assim vamos todos ter que pagar eternamente, mesmo sem sabermos porquê.
    Não é isso preconceito, "amigo" Jorge? Ou preferias que o Brasil tivesse sido colonizado pelos ingleses, franceses, espanóis, holandeses... porque colonizado, iria ser, não tenhas ilusões!!
    Quando irás perdoar os portugueses de agora pelos eventuais erros que se cometeram há 500 anos?
    E quanto a "pintar o 7", olha que os teus irmão brasileiros também fazem umas pinturas por este país fora, podes crer!... e por este mundo, também. Aliás, qual é a diferença entre um brasileiro, um português e um francês, ou de outras nacionalidades quaisquer? - para mim são todos seres humanos, não vou apoiar a expulsão de um alemão só porque o Hitler existiu!!!!
    Olha o preconceito, meu irmão...
    Um abraço fraterno.

    C.A.

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  6. Anónimo21.6.06

    A propósito do post:

    As nossas aldeias estão (mesmo) a morrer. Pois estão!
    Não morreram já centenas ou milhares de aldeias no nosso território, antes destas que agora estão a morrer? - lembremo-nos, por exemplo, dos castros, que também eram aldeias.
    Não será isso fruto da evolução natural dos tempos?
    É só mais um tópico para tentarmos olhar para o tema de uma outra forma, não é que eu esteja de acordo com a morte das aldeias, longe disso!

    C.A.

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  7. Anónimo21.6.06

    pbck Meu "caro" C.A.

    Não tenhas duvidas que até a tua Avó " e não me interpretes mal, pois já alguém o disse antes de mim" antes de morrer (se é que morreu?) estava viva e como tal pronta para gerar descendência deveras iluminada!!!!....

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  8. O JORGE CAMPOS pelo jeito é um xenófobo exarcebado e também um fazedor de graças.O Brasil de hoje não está a ser colonizado pelo FMI?Pensa direito antes de escreveres bobagens,porque pelo jeito não sabes o que dizes.Lembra-te que a França colonizou o Haiti,a Holanda o Suriname e como podes saber são duas potências da América,só que potências da desgraça,da fome e da miséria

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  9. Um Brasileiro "xenófobo"... Acho difícil minha querida "pátria amada Brasil". sou filho de mãe Negra e pai Branco, sangue italiano talvez .. Quem sabe? Aqui ninguém sabe mais suas origens, ninguém preza sua historia e a historia do seu sangue.
    Minha namorada Descende de Japoneses e Italianos, de Brasileira ela só tem a certidão de nascimento. Ainda sou chamado de "xenofobo"?
    Vim até esse blog para fazer um elogio a um bom escritor português. Não para fazer criticas nem ameaças, não sei perder meu tempo com isso meu caro.

    Mas como réplica ao descaso de alguns brasileiros com a historia de sua terra, de sua língua, a propósito... Qual é o idioma que vc fala pátria amada Brasil? Tupi Guarani?
    Deixo aqui um trecho do poema OS Doentes - De Augusto dos Anjos.

    Aquele ruído obscuro de gagueira
    Que à noite, em sonhos mórbidos, me acorda,
    Vinha da vibração bruta da corda
    Mais recôndita da alma brasileira.

    Aturdia-me a tétrica miragem
    De que, naquele instante, no Amazonas,
    Fedia, entregue a vísceras glutonas,
    A carcaça esquecida de um selvagem.

    A civilização entrou na taba
    Em que ele estava. O gênio de Colombo
    Manchou de opróbrios a alma do mazombo ,
    Cuspiu na cova do morubixaba.

    E o índio, por fim, adstrito à étnica escória,
    Recebeu, tendo o horror no rosto impresso,
    Esse achincalhamento do progresso
    Que o anulava na crítica da História.

    Mas, diante a xantocróide raça loura,
    Jazem, caladas, todas as inúbias,
    E agora, sem difíceis nuanças dúbias,
    Com uma clarividência aterradora,

    Em vez da prisca tribo e indiana tropa
    A gente deste século, espantada,
    Vê somente a caveira abandonada
    De uma raça esmagada pela Europa!

    ResponderEliminar
  10. Jorge: Com a miscegenação de raças não cabe o preconceito.Aceite a história tal como ela é.Os colonizadores construiram a Patria amada Brasil.Defenderam-na dos ataques com bravura e dignidade;povoaram-na do jeito que puderam;ensinaram o melhor que sabiam.Erros cometeram,mas quem não os comete?

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  11. Não são as aldeias que morrem, mas o estilo de vida que as suportou até hoje e, consequência disso, a impossibilidade de um outro estilo de vida se suportar nas estruturas económicas, ideológicas(?) e culturais que suportavam e davam vigor q.b. às aldeias de então. Por isso algumas aldeias desertificam-se, fenecem, implodem enquanto outras crescem como "tendo o fogo no rabo", mas moldadas a outras realidades e culturas que, infelizmente, muitos de nós não compreendem o bastante para evitar a vergonha das imitações. E as aldeias descaracterizam-se -- não tanto como noutras regiões -- por isso mesmo, porque quem nelas quer viver aspira, e bem, a viver de modo diferente daquele que então viveram ou viram viver.
    O problema está em saber a real força ou poder de quem conflitua saudavelmente com modos de vida por vezes opostos, neste espaço, nesta terra. Se o conservadorismo atroz, se o voluntarismo regenerador e jovem de quem tem ideias e experiência de que as coisas podem se de outro modo.
    Por isso é importante, de facto, saber das novas condições de intervenção política e cívica de gerações que arriscam envolver-se na terra de seus pais e se incomoda com a sua degenerescência e, mais do que isso, com a incapacidade de inverter esse estado de coisas.

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  12. Anónimo26.6.06

    ....MAS É PENA QUE AS QUE TÊM "FOGO NO RABO", O TENHAM À CUSTA DE ACTIVIDADES MUITO PROFICUAS E QUE NEM TODAS AS ALDEIAS AS PODEM DESENVOLVER. PENSO QUE ESTE POST ESTÁ MUITO BEM RELACIONADO COM UM POST ANTERIOR SOBRE A QUESTÃO DEMOGRÁFICA.
    ABRAÇOS

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  13. Anónimo3.7.06

    Concordo com que Nuno Pereira, porém é uma pena para o contexto histórico e cultural de Portugal, a perda dessas aldeias.
    Ao me ver essas aldeias poderiam viver do turismo, com venda de artesanato, doces e até de pequenos restaurantes de fim de semana, onde se poderia comer a maravilhosa comida caseira portuguesa.
    Apesar de não ter nascido em Portugal , adoro a terra de meus pais e gostaria de ver, Portugal desenvolvido,valorizando, sempre, esse povo repleto de garra.
    Um abraço.
    NÁDIA

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