Num reino distante, tão distante como o pensamento, havia uma princesa de uma beleza tal que, quando observada bem de perto, chegava a parecer assustadora de tão bela.
Era já tempo de procurar para ela um marido e foi o pai, o Rei de Ouros, que mandou anunciar o facto no seu reino e nos vizinhos... Seriam, com certeza, muitos os pretendentes, que viriam, com os seus inumeráveis escudeiros, procurar os favores de Maná.
Assim aconteceu. Chegados ao palácio, os pretendentes, carregados de magníficos presentes, deparavam-se com a única questão colocada pela princesa e ficavam mudos e imóveis num primeiro momento, mas logo procuravam as respostas que acreditavam serem as que Maná esperava.
- Para que me queres? - perguntava a princesa.
As respostas não variaram muito e centravam-se na felicidade da princesa, do pretendente, na prosperidade própria e dos vassalos e na descendência...
E nenhuma parecia convencer Maná, a mais rica e a mais desejada herdeira dos reinos conhecidos.
Numa qualquer noite, chegou ao palácio um jovem, filho de um velho agricultor pobre, com uma montada quase tão velha como o pai, e foi recebido pela princesa como se se tratasse de um qualquer príncipe...
- Para que me queres? - perguntou Maná, como fizera a todos os outros pretendentes.
- Permiti-me, bela senhora, que não responda a essa pergunta. O querer que demandais, além da vontade, que não nego, indica também uma posse, que não pretendo. Venho aqui, senhora, para merecer o favor da vossa presença e, se mais me permitirdes, para com a vossa beleza poder encher o meu olhar e espelhar o que de vós levo pelas terras que não são minhas, pelas casas que não possuo, pelos montes que crescem livres e pela gente que do teu brilho precisa...
As palavras deste jovem comoveram Maná, que nelas viu uma humildade sincera e uma vontade que ia para além dele...
Quando se preparava para consentir a presença do jovem no palácio e anunciar que era o seu preferido, a mão da aia fez estremecer todo o seu sono e arrancou-lhe do olhar aquele magnífico pretendente...
Teria que continuar à procura... Ou, então, teria que deixar entrar em sua casa e no seu reino um qualquer príncipe, cheio de promessas e de vassalos, pronto a deixar-se corromper pela sua beleza.
"Teria que continuar à procura... Ou, então, teria que deixar entrar em sua casa e no seu reino um qualquer príncipe, cheio de promessas e de vassalos, pronto a deixar-se corromper pela sua beleza."
ResponderEliminarÉ... só espero que no palácio da "nossa" Princesa Maná não entre nenhum Príncipe mais maquiavélico do que aquele que o italiano descreveu!
Parabéns, Pedro Silva, pela acutilância e por tratares tão bem a língua materna! Afinal ainda há quem consiga ver um pouco mais além ao mesmo tempo que nos delicia com a sua arte discursiva.